Estudo desenvolvido no Centro de Terapia Celular promove o avanço na produção de células-tronco in vitro

As Terapias Celulares para o tratamento de doenças deixaram o campo das promessas e hoje desenvolvem uma intensa atividade nos laboratórios. Porém, um dos grandes desafios da área é a obtenção em larga escala da principal matéria-prima, as células-tronco.

Dra. Amanda Mizukami
Dra. Amanda Mizukami

O trabalho da pesquisadora Amanda Mizukami, no Centro de Terapia Celular (CTC) da USP, é possibilitar com que uma variedade destas células, chamadas de células mesenquimais estromais (MSCs), sejam produzidas in vitro (fora dos seres vivos), com qualidade e eficiência.

As MSCs são células-tronco multipotentes que podem se diferenciar em diversos tipos celulares. Uma vez administrada por via intravenosa, elas são capazes de migrar para o tecido danificado promovendo a integração, formação de novos vasos e uma resposta anti-inflamatória. Estas células são encontradas em diversos locais do nosso corpo, sendo a medula óssea a principal fonte.

Segundo a cientista, a quantidade de MSCs nos tecidos de origem é muito baixa, tornando essencial a expansão in vitro. “Embora a maioria dos ensaios clínicos ainda esteja no início, os dados apontam para a necessidade de elevadas doses de células para uma melhor eficiência terapêutica”, destaca Mizukami.

Os biorreatores são a alternativa para superar essas limitações. O sistema permite o monitoramento e controle das condições de cultivo necessárias para uma expansão eficiente e reprodutível. De acordo com a pesquisadora, a principal vantagem de expandir células em biorreatores é a garantia da segurança, pois o cultivo é realizado em sistema fechado, minimizando a possibilidade de contaminação.

Biorreator utilizado no CTC
Biorreator utilizado no CTC

“Em um único sistema podem ser produzidas muito mais células que no sistema de cultivo tradicional. Vários tipos de biorreatores têm sido utilizados para a expansão de MSCs e cada um tem características específicas que devem ser avaliadas a fim de selecionar o que mais atende às necessidades de cada aplicação”, explica a pesquisadora.

Outro fator importante é a análise do custo de todo o bioprocesso. O alto investimento é um dos principais obstáculos para a comercialização dos produtos baseados em terapia celular, devido à complexidade, alta sensibilidade, às condições de manufatura e aos materiais de consumo exigidos. Por isso, acessar as despesas do processo é essencial para a viabilidade econômica da iniciativa.

O estudo foi tema da tese de doutorado: “Expansão in vitro de células estromais mesenquimais e caracterização do secretoma: aplicações terapêuticas e biotecnológicas”, que contou com apoio da FAPESP, da Universidade de Lisboa (Portugal) e University College London (Inglaterra).

Esta nova abordagem representa um passo fundamental para o desenvolvimento de um bioprocesso de produção eficiente e seguro, compatível com as exigências das agências regulatórias para produtos baseados em células e com custo-efetivo.