Pesquisa com células geneticamente modificadas podem beneficiar pacientes do SUS com leucemia e linfoma

Pesquisadores do Hemocentro de Ribeirão Preto estão desenvolvendo uma plataforma de expansão de células T geneticamente modificadas para tratamento de pacientes com leucemias e linfomas. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que foram registrados mais de 23 mil novos casos destas doenças em 2016.

Essa terapia poderá beneficiar pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O Hemocentro de Ribeirão Preto sedia o Centro de Terapia Celular (CTC-USP), da FAPESP, e o Instituto Nacional de Células-Tronco e Terapia Celular no Câncer (INCTC), do CNPq, que têm aporte financeiro de R$ 7 milhões para pesquisas em terapias celulares e genéticas do câncer. A equipe também possui parceria com a GE Healthcare Life Sciences para o desenvolvimento do projeto.

Esse tipo de imunoterapia foi desenvolvida por pesquisadores pioneiros da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e posteriormente licenciada à indústria farmacêutica Novartis. Conhecida como CAR-T cell therapy, a terapia é totalmente personalizada e associa a imunoterapia celular à engenharia genética e biotecnologia.

Prof. Dr. Dimas Tadeu Covas

O estudo americano, conduzido com essa terapia, mostrou que uma dose única de células T geneticamente modificadas fez desaparecer por completo as células cancerígenas em 83% dos pacientes com leucemia linfoide aguda tratados. Os resultados foram considerados impressionantes pelos oncologistas e um grande avanço para esses pacientes que não tinham mais opções terapêuticas.

As células T são coletadas do próprio paciente e modificadas geneticamente em laboratório. Uma vez alteradas, elas são reintroduzidas na corrente sanguínea, onde se multiplicam e começam a combater as células cancerígenas.

Prof. Dr. Rodrigo Calado

Uma única célula T modificada é capaz de destruir até 100 mil células cancerígenas. Ao contrário dos medicamentos disponíveis atualmente, cada dose é customizada para o paciente e, para isso, há uma logística complexa e elevado custo. Apesar de promissora, a nova terapia pode ter efeitos colaterais graves. O mais frequente é a resposta exacerbada do sistema imunológico, que causa febre muito alta e queda súbita de pressão arterial.

Até o fim deste ano, está prevista a submissão de um estudo clínico experimental para apreciação pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa e aprovação das agências reguladoras brasileiras. 

O projeto é liderado pelos professores Dimas Tadeu Covas e Rodrigo Calado, ambos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). A equipe é composta pelas pesquisadoras Virginia Picanço e Castro, Kamilla Swiech e Kelen Malmegrim de Farias, também da USP de Ribeirão Preto.

Reportagem: Marcos de Assis – Assessoria de Imprensa do Hemocentro de Ribeirão Preto