Pesquisadora do CTC publica artigo sobre banco genético da população brasileira

A Profa. Dra. Lygia da Veiga Pereira publicou um trabalho na revista Scientific Reports, do grupo Nature, sobre a formação de um banco de células com a genética da população brasileira. A pesquisadora integra o Centro de Terapia Celular (CTC) da USP e coordena o Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) da USP.

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Os cientistas criaram uma biblioteca inicial com 23 linhagens celulares que mostram a mistura genética de europeus, africanos e indígenas na população brasileira. Essas células têm potencial para serem transformadas em células de diversos tecidos do corpo, como neurônios, células do fígado e do coração – e poderão ser usadas para verificar a segurança ou a eficácia de medicamentos, em alguns casos até substituindo os testes em animais. Outra possível aplicação é o estudo de doenças comuns, a exemplo da hipertensão.

O projeto teve a parceria do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA), coordenado pelo Ministério da Saúde, e pode ser expandido para representar a diversidade genética de 1.872 pessoas.

Acesse o artigo, divulgado no dia 6 de outubro, no link abaixo:

Increasing The Genetic Admixture of Available Lines of Human Pluripotent Stem Cells

http://www.nature.com/articles/srep34699

Testes de medicamentos

Na linha de desenvolvimento de um novo fármaco, as células podem ser utilizadas para complementar ou até mesmo substituir os testes em animais, antes de serem feitos os ensaios clínicos com pessoas. As células-tronco desenvolvidas pelo LaNCE são pluripotentes – têm potencial para se transformar em qualquer tecido do corpo humano. Em um exemplo de uso, no laboratório, células cardíacas produzidas a partir dessas células-tronco podem indicar se o novo medicamento é tóxico para o coração. Aqueles fármacos que forem tóxicos para as células não serão testados em seres humanos.

Outra questão importante é a resposta variável das pessoas aos remédios. Mesmo já aprovados, alguns simplesmente não funcionam ou são tóxicos para diferentes grupos de pacientes. Cientistas apontam os genes como o fator mais importante para essas diferenças de respostas a um fármaco. Logo, um medicamento testado numa população europeia, por exemplo, pode não ter a mesma resposta numa população asiática. Diante do alto custo de fazer ensaios clínicos em pessoas de várias partes do mundo antes de comercializar um remédio, pesquisadores do grupo da USP sugerem que células de populações diferentes sejam usadas para estes testes.

Diversidade Genética

Para isso, é necessário que diversos grupos de pesquisa desenvolvam coleções de células-tronco que representem a genética daquela população. Atualmente, são conhecidas bibliotecas de ascendência europeia e outras de ascendência asiática, além de uma africana e de uma de índios americanos.

No caso da população brasileira, estudos com moradores de áreas urbanas apontam que os indivíduos têm uma herança genética misturada, com 60% de contribuição europeia, 25% de contribuição africana e 15% de contribuição indígena, em média. Os estudos iniciais do LaNCE, com células-tronco embrionárias doadas de clínicas de fertilização in-vitro, produziram cinco linhagens dessas células, mas com 92,7% a 98,6% de genoma europeu – ou seja, não representam a variedade da população brasileira.

Foi feita, então, uma parceria com os participantes do ELSA, um estudo do Ministério da Saúde que monitora a saúde de 15.105 brasileiros. De dois em dois anos, eles passam por exames clínicos e entrevistas, com objetivo de descobrir a incidência e os fatores de risco de doenças crônicas, como diabetes, e de doenças cardíacas na população. Dos cerca de 5 mil participantes atendidos no Hospital Universitário da USP, 1.872 aceitaram ter o sangue coletado e as células, congeladas. Dezoito amostras dessas células de sangue foram reprogramadas – foram transformadas em células-tronco pluripotentes, equivalentes a células-tronco embrionárias.

A análise genômica revelou que essas células têm uma contribuição europeia que varia de 14,2% a 95%; africana de 1,6% a 55%; e indígena de 7% a 56%. Essas amostras se mostraram mais características da população brasileira.

Pesquisa de doenças

Como cada linhagem de células está associada a um extenso banco de dados clínicos do ELSA, a biblioteca desenvolvida pela USP também é uma ferramenta poderosa para o estudo de doenças comuns. Por exemplo, entre as amostras já coletadas, cerca de 400 são de pessoas com hipertensão e 10% dessas pessoas não conseguem ser tratadas com os medicamentos atuais. Pesquisadores que queiram estudar os mecanismos da hipertensão – ou da resistência aos medicamentos – podem solicitar que o laboratório forneça células-tronco desses indivíduos, especificamente.

Com informações do Núcleo de Divulgação Científica da USP