O que são células CAR-T?
As células CAR-T são células produzidas em laboratório derivadas das células mais importantes do nosso sistema de defesa, as células T. Em seu estado natural, as células T, que nos protege contra infecções e tumores, podem perder a capacidade de “enxergar” as células do câncer. Assim, o processo de produção das células CAR-T nada mais é do que modificar as células T para que elas possam readquirir a capacidade de “enxergar” células específicas do câncer e destruí-las, tais como as células das leucemias e dos linfomas.
O que é a Terapia Celular?
A utilização de células manipuladas ou alteradas ex-vivo na prevenção, tratamento ou cura de doenças e lesões. Essas células podem ser do próprio indivíduo (autóloga), de outra pessoa (alogênica) ou de procedência animal (xenogênica). As células-tronco têm origem embrionária (formam o embrião) ou somática (formam o feto).
A terapia com as células CAR-T consiste na modificação genética das células do sistema imune chamadas linfócitos, que circulam pela corrente sanguínea. Esses linfócitos são “treinados” em laboratório para reconhecerem um determinado alvo, e depois devolvidos na corrente sanguínea dos pacientes. O CAR-T atualmente produzido no Nutera RP é específico para combater um alvo chamado CD19, proteína presente somente na leucemia linfoide aguda de células B e no linfoma não Hodgkin de células B. Desta forma, esta imunoterapia não possui efetividade em outros tipos de câncer.
Entenda a terapia
Após a coleta das células T do paciente, através de um procedimento chamado de aférese, as células T são modificadas em laboratório para dar origem às células CAR-T. Após o processo de modificação, as células CAR-T são multiplicadas até uma dose adequada para o peso do paciente. Ao final, as células CAR-T são infundidas na circulação sanguínea do paciente, promovendo a destruição de células específicas do câncer.
Qual o diferencial da terapia celular?
A terapia com células CAR-T é considerada um dos tratamentos mais inovadores da medicina e representa uma revolução no tratamento do câncer. Ela tem altíssima complexidade e é personalizada, pois usa as células de defesa do próprio paciente para combater a doença.
Qual a importância das células CAR-T no tratamento do câncer?
As células CAR-T são consideradas revolucionárias no tratamento do câncer. Cerca de 90% dos pacientes portadores de leucemia linfoblástica aguda de células B e, sem quaisquer perspectivas de tratamento, responderam ao uso de células CAR-T, dos quais cerca de 60% obtiveram a cura. Outras doenças como o mieloma múltiplo e linfomas também apresentam excelente resposta ao tratamento com células CAR-T.
Nos EUA, dois produtos de células CAR-T, desenvolvidos pela indústria farmacêutica e aprovados para uso comercial pelo FDA possuem custo médio de US$ 400.000 (quatrocentos mil dólares) a infusão. No Brasil, por se tratar de tecnologia desenvolvida em Ribeirão Preto, estima-se que o custo seja não mais que 10% deste valor. Um grupo seleto de países possui a tecnologia necessária para a produção das células CAR-T, grupo que agora inclui o Brasil.
Como foi desenvolvida esta tecnologia no Brasil pelo CTC-USP?
O Centro de Terapia Celular da USP é a primeira instituição brasileira a desenvolver tecnologia 100% brasileira para a produção de células CAR-T.
Com um robusta experiência em Terapia Celular, o CTC-USP destaca-se pelo seu pioneirismo no desenvolvimento de tratamentos complexos que beneficiam a população brasileira. O Centro possui estrutura própria em condições de produzir células para uso clínico em humanos que segue o rigoroso padrão GMP, sigla em inglês para boa prática de manufatura ou produção.
Como foi aplicada essa tecnologia?
Com a tecnologia desenvolvida pelo CTC-USP, as células T de um paciente portador de linfoma não hodgkin avançado, sem perspectiva alguma de tratamento, foram processadas e transformadas em células CAR-T. A primeira infusão ocorreu no início de setembro de 2019 e o paciente teve excelente resposta ao tratamento. Após a infusão houve desaparecimento das lesões palpáveis do linfoma e interrupção do uso de morfina como analgésico. Hoje, já são 20 pacientes tratados em maneira compassiva.
Próximos passos
O Hemocentro de Ribeirão Preto foi escolhido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser o responsável pelo projeto-piloto no desenvolvimento de produtos de terapia avançada, voltados ao tratamento de pacientes portadores de leucemia e linfoma, com o uso de células CAR-T.
A Anvisa aprovou o relatório de segurança da primeira fase do Estudo Clínico CARTHEDRALL, com a Terapia Celular CAR-T produzida no Hemocentro de Ribeirão Preto em parceria com o Instituto Butantan, e autorizou a progressão para a segunda etapa.
O Estudo Clínico, financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Programa para o Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (PROCIS), visa tratar 81 pessoas com leucemia linfoide aguda de células B (LLA) ou linfoma não-Hodgkin de células B refratários, em cinco centros de referência brasileiros. O objetivo é verificar a segurança e eficácia das células CAR-T. A meta é oferecer futuramente a terapia de forma gratuita no SUS (Sistema Único de Saúde).
A liberação para a segunda fase do estudo, permite aos centros parceiros, Hospital das Clínicas da FMUSP, Beneficência Portuguesa, Hospital Sírio Libanês, sediados em São Paulo (SP), e Hospital de Clínicas de Campinas da UNICAMP (SP), assim como o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), também recrutar e tratar pacientes a partir de janeiro de 2025.
O maior desafio é elevar em escala a produção de células CAR-T para que um número maior de pacientes brasileiros tenham acesso a tratamento seguro com padrões GMP, através da abertura de novos protocolos de pesquisa.
Para isso, o CTC-USP investe na ampliação de sua estrutura de processamento celular, desenvolvimento e produção de novos vetores para o tratamento de outros tipos de cânceres, tais como linfomas, leucemias agudas e futuramente mielomas múltiplos e tumores sólidos. Saiba mais na aba “Nutera: terapia avançada no combate ao câncer”.